sábado, 31 de julho de 2010

De volta à pátria: bota os óculos pr'á enxergar!


Consumo para todos!

É a palavra de ordem que já superou aquela de "os filósofos já explicaram o mundo, agora é preciso transformá-lo!" A grande transformação virá pelo consumo possível para todos. Que aliás inclue tb produtos culturais e de comunicação, como livros, jornais, internet, iPad, celulares pré e pós-pagos, com 3G, óperas, balé, cinema e teatro, viagens, Love Parades em locais seguros (não podia deixar passar um taco desses na eficiência e precisão germânicas ...), boa escola, bom nível de escolaridade, alimentação saudável e de qualidade.

Aliás, vou te contá! Isso aqui é o atraso! Hoje - já tô de vorta aos bruzundangas -, naturalmente, a funcionária lá em casa apresentou a lista de compras para a semana (que os sacaninhas dos meus filhos devem ter imaginado eu não poderia ficar sem ela ao retorno ...). Passara 29 dias longe deste nosso paisinho e então achei que seria um bom exercício de volta ao lar.

Aquela porrada de gôndolas todas cheias de produtos em quantidade repetida, de mesmas cores e materiais, sem brilho, sem apelo, de baixissima criatividade visual. É difícil perceber isso, pois já estamos habituados ao mesmo e só quando se passa quase um mês entrando dia sim dia não em um autoserviço extremamente agradável ao sentidos, ao tato, ao olfato (à audição, inclusive, pois não há ninguém lá fazendo oferta-relâmpago), e, graças a hoje quase instantaneidade da mudança de fuso horário e quadrante, 48 horas depois - exatamente entre a última entrada num supermercado ou auto-serviço de Berlim e a próxima, agora no Walt-Mart e no Extra de Bsb - vc sai, pra dar a idéia, da Bellini e entra no Tatico de Águas Lindas.

E num tô reclamando da caixa não ser uma alemãzona de meia-idade (com quem apenas consigo interagir escassamente) e olho azul (o caixa q me atendeu aqui no Walt-Mart, como é a regra nos locais onde geralmente compro, era gentilissimo e meio mulato, meu tipo brasileiro ideal!). Tô reclamando das verduras não tão atraentemente e bem empacotadas em porções exatas para uma, duas, quatro pessoas, em plástico transparente brilhante e resistente; dos pacotes pouco resistentes de produtos industriais e que, com o soro do queijo de minas (cuja embalagem era vagabunda) vasando, encharcou e começou a rasgar nas arestas; tô reclamando da confusão na esteira do caixa entre minhas compras amontoadas e as do cliente que viria em seguida. E este aqui foi o detalhe fundamental e decisivo para a minha iluminação, o insight: não vai ter consumo para todos enquanto não se racionalizar os processos sociais e isso só com muita, mas muita educação, investimentos na escola e na mudança de condutas e comportamemtos inter-pessoais. Em Berlim, independentemente do tamanho da compra - e não vi ninguém fazer compra que enchesse um carrinho de supermercados pequenos daqueles nossos; dos grandes e dos jumbos, então, acho que juntaria alemão para tirar fotos se vissem um exemplar! - cada cliente coloca uma travezinha quadrada ou triangular após seus volumes serem dispostos na esteira, demarcando o que irá comprar, no formato daquelas réguas de medir tecido de madeira, sabe? (no comprimento é um pouco menor que a largura da esteira, logicamente) e leve e maneira. Isso tem aqui, alguém vai dizer. O detalhe. Ao longo da esteira, do lado oposto ao do cliente, tem um nicho, um degrau, um ressalto, onde essas travezinhas cabem exatamente e por serem revestidas de algum material anti-aderente e a superfície desse nicho ser também anti-aderente, deslizam por ali quando arremessadas pelo caixa ou pelo próprio cliente e até o início da esteira! Um ovo de colombo. Tudo organizado. Se vc esquecer de colocar a sua travezinha a alemã na caixa faz um muchocho e põe a trave ao final das compras ou, o que é menos ruim, quem o faz é quem vier atrás.

Se algo simples, comum, rotineiro, e estressante como fazer as compras do dia a dia em supermercado conta com um dispositivo racionalizador e simplérrimo desses, imagina o resto. Alguém vai dizer q isso não faz diferença, é um detalhe, coisa e tal. Bom, a vida é feita de detalhes, e o demônio está nos detalhes. E pr'á num discutir muito e deixar barato, tá bão, então, é um detalhe de merda como tanta coisa neste nosso país, mas e a qualidade dos produtos de lá?

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